Tuesday, September 21, 2010

The Wound



A new-born baby. You may think there are no feelings, no memories. It is incredible to know that even inside the womb, a baby knows and feels. The mother also feels, connects and bonds with her baby. For nine months they are close friends, only expecting to meet when time comes. How can she interrupt that connection exactly at the most precious time, when the both of them finally see each other face to face? How can she voluntarily part with a piece of herself? How can she give away a piece of her core? How can she?


Growing up, I was told many times how my birth mother loved me so much she decided to give me away to a better family. Indeed, that is exactly what happened. I felt rejected and abandoned nonetheless. How can one understand that? Is that love? Love means separation and suffering? That is not love. For whatever reason a mother decides to relinquish her baby, it is a voluntary decision. One that will forever impact the lives of two human beings. Needless to mention that the baby is who will forever suffer the consequences of this separation, which brings results to its own inner being. Results that are painful only to mention.

Within myself, there are feelings about this traumatic experience, which have recently helped me in understanding why I am what I am. From now on I have to convince myself that having these feelings does not mean that I am abnormal, sick or crazy.
Feeling rejected and abandoned has struck me as difficult to admit and difficult to accept. I am very well aware of the pain and consequences this causes on an innocent baby. It is an experience that has been part of me since I was born, which was never clear or even available as a considered option. As an adopted child I was expected to be grateful for being in such a nice family. And that was and has been indeed how I feel and will always feel thankful for the family I was given. However that expectation was originated within myself and within society. It offered no empathic understanding of the consequences that would have on my personality, or even how it would mold me to become who I am. At no time it was perceived as a negative experience, when a baby has to cope with being separated from the very being who nourished and gave life to him. Instead, it is a privilege and a benefit for being chosen. But how can one understand the fact of being chosen, when, at the same time, being rejected by one's own mother? Would it mean that love equals rejection? As an adult it seems hard to have a grasp of these concepts, needless to mention how a child would feel. Nonetheless, these feelings are hidden within, and flourish during adolescence and early adulthood years, a crucial time when one is creating its own identity.

I am learning that the answer to all of this is to acknowledge the difficulties, live with that reality, and learn how to deal with it.

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Um bebê recém-nascido. Você imagina que não há sentimentos, que não há memórias. É incrível saber que mesmo dentro do útero, um bebê entende e sente. A mãe também sente e se conecta com seu bebê. Por nove meses eles são amigos íntimos, somente esperando pra se encontrarem no tempo certo. Como ela pôde interromper essa conexão exatamente no momento mais precioso, quando ambos finalmente se vêem face a face? Como ela pôde voluntariamente se separar de uma parte dela mesma? Como ela pôde doar um pedaço de seu cerne? Como ela pôde?

Enquanto crescia, me disseram várias vezes que minha mãe biológica me amava tanto que ela decidiu me  doar para uma família melhor. Realmente, isso foi exatamente o que aconteceu. Todavia eu me senti rejeitada e abandonada. Como alguém pode entender isso? Isso é amor? Amor significa separação e sofrimento? Isso não é amor. Por qualquer razão uma mãe decide renunciar a seu bebê, é uma decisão voluntária. Uma decisão que pra sempre irá impactar a vida de dois seres humanos. Dispensável mencionar que é o bebê quem vai pra sempre sofrer as consequências dessa separação, a qual trará resultados a seu ser interno. Resultados que são dolorosos de mencionar.


Dentro de mim mesma, existem sentimentos sobre esta experiência traumática, os quais têm recentemente me ajudado a entender porquê sou o que sou. Daqui em diante tenho que me convencer que ter esses sentimentos não significa que sou anormal, doente ou louca.
Me sentir rejeitada e abandonada é difícil de admitir e difícil de aceitar. Sou bem ciente da dor e das consequências que isso causa em um inocente bebê. É uma experiência que tem sido parte de mim desde que nasci, a qual nunca foi clara ou até mesmo considerada como uma opção. Como uma criança adotada, era esperada a ser grata por estar em uma família tão boa. E isso era e tem sido exatamente como eu me sinto e pra sempre serei grata pela família que tive. Entretanto essa expectativa foi criada dentro de mim mesma e pela sociedade. Nao me foi oferecido algum entendimento ou empatia pelas consequências que isso teria na minha personalidade, ou até mesmo como isso me moldaria a me tornar quem eu sou. Em nenhum momento foi entendido como uma experiência negativa, quando um bebê tem que lidar com o fato de ser separado do ser que o sustentou e que deu vida a ele. Em vez disso, é um privilégio e um benefício por ter sido escolhida. Mas como alguém pode entender o fato de escolhido enquanto ao mesmo tempo ser rejeitado pela própria mãe? Isso significa que amor se iguala a rejeição? Como um adulto esses conceitos já são difíceis de compreender, não preciso mencionar como uma criança se sentiria. Todavia, esses sentimentos são interiormente encobertos, e se desenvolvem durante a adolescência e os primeiros anos de adulto, uma época crucial na qual uma pessoa desenvolve sua própria identidade.

Estou aprendendo que a solução para tudo isso é reconhecer as dificuldades, viver com essa realidade e aprender a lidar com elas.






2 comments:

  1. As pessoas que observam o processo de adoção de fora não compreendem os conflitos psicológicos e o sentimento de abandono ocasionado por ele. Visto externamente, parece que se trata apenas de uma simples substituição, geralmente ocasionando uma melhor condição de vida. Seria, portanto, como uma conta em que 2+2 sempre será igual a 4. Para o adotado a conta não fecha, parece que falta algo. São coisas que só quem vive tal situação pode compreender.

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  2. Adoção é, muitas vezes, visto como uma salvação pra criança que está sendo ou foi abandonada. E se é esperado daquela criança um sentimento de gratidão por toda sua vida. Embora essa gratidão exista de uma forma ou outra, é o sentimento de abandono que predomina, que, como você mencionou, não é reconhecido por ninguém que não tenha vivido tal situação.

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